domingo, 26 de maio de 2013

Antes de receber a turma de alfabetização, o professor deve planejar que atividades vão proporcionar o contato sistemático e significativo com práticas de leitura e de escrita.

Aos 5 ou 6 anos de idade, as crianças percebem mais claramente que 
existem outras formas de representar o mundo sem ser por meio de 
desenhos cheios de traços e cor. Descobrem, enfim, a presença 
e a importância da escrita, que permite a todos comunicar ideias e 
opiniões por meio, por exemplo, de cartas, bilhetes, notícias e poemas. 
Mas, para que cada um dos pequenos dê esse grande salto no aprendizado, 
é preciso que a atuação do professor no Ensino Fundamental de nove 
anos esteja ajustada a esse propósito. 
O passo inicial é definir com antecedência as atividades que vão fazer do 
ano letivo um encadeamento de descobertas, cada uma delas mais 
desafiante que a outra. "O educador precisa ter uma visão geral do 
trabalho para prever em que ritmo as propostas de leitura e escrita 
vão se aprofundar ao longo do período", explica a professora argentina 
Mirta Torres, especialista em didática da leitura e da escrita.Segundo Mirta, nesse planejamento é importante considerar que cada 
criança já está em processo de alfabetização. 
"Antes de irem para a escola, os pequenos tiveram contato com práticas 
de leitura e de escrita, com maior ou menor grau de espontaneidade, 
ao escutar os pais lerem histórias, ao folhearem livros ou ao verem adultos 
e outras crianças escreverem", pontua. 
O que muda é que na escola esse processo passa a ser intencional 
e sistemático, ganhando sentido e contando com a participação ativa de 
cada estudante.
Para chegar ao detalhamento da rotina semanal de uma classe de 1º ano, 
o educador precisa ter clareza de que itens devem ser combinados e com 
que regularidade devem ser praticados para permitir às crianças entender 
em que situações se lê e se escreve, para que se lê e se escreve e quem 
lê e escreve. "E não é necessário ter sempre novidades programadas. 
A continuidade dá segurança aos alunos e, associada à diversidade 
de assuntos, amplia o repertório deles", explica Debora Samori, pedagoga 
e formadora de professores do Centro de Educação e Documentação para 
Ação Comunitária (Cedac). Um planejamento acertado contempla três tipos 
de atividade.
1. Atividades permanentes São essenciais para o processo de 
alfabetização. Por isso, devem ser praticadas diariamente 
ou com periodicidade definida e em horário destinado exclusivamente a 
elas. Incluem:
1. A leitura pelo professor, feita diariamente, em voz alta, caprichando 
na entonação para aumentar o interesse e tomando cuidado para variar 
os gêneros durante o ano: contos, cartas, notícias, poemas etc.
2. A leitura pelos alunos, feita em dias alternados com atividades de 
escrita, sempre tendo como objeto textos que eles conheçam de cor, 
como cantigas, parlendas, trava-línguas, textos informativos etc.
3. A escrita pelas crianças, feita em dias alternados com atividades 
de leitura, tendo como objeto a produção de listas de nomes de colegas, 
de frutas, de brinquedos etc., que podem ser escritas pelos estudantes 
com lápis e papel ou com letras móveis.
4. A produção de texto oral com destino escrito, feita em dias 
alternados com atividades de leitura, quando os alunos criam oralmente 
um texto e o ditam para o professor, trabalhando o comportamento 
escritor.
2. Sequências de atividades 
São organizadas para atingir diversos objetivos didáticos relacionados 
ao ensino e à aprendizagem da leitura e da escrita. 
Necessariamente apresentam um nível progressivo de desafios. 
A duração varia de acordo com o conteúdo eleito. Pode levar dois meses 
ou chegar a quatro, sendo praticada duas ou três vezes por semana. 
Visam levar as crianças a construir comportamentos leitores associados 
a propósitos como ler para aprender, ler para comparar diferentes versões 
de uma mesma obra e ler para conhecer diversas obras de um mesmo 
gênero. Em um bimestre, pode ter como objetivo trabalhar a leitura de 
contos de autores variados. Em outro, pode eleger a leitura de seções 
de jornal para que a turma se habitue a outro tipo de texto.
3. Projetos didáticos 
São formas de organização dos conteúdos escolares que contribuem 
para a aprendizagem da leitura e da escrita ao articular objetivos didáticos 
e objetivos comunicativos. A sequência de ações de um projeto culmina 
na elaboração de um produto final (um livro de receitas saudáveis para 
as merendeiras da escola, uma gravação em CD ou fita cassete com a 
leitura de poesias para alunos de Educação de Jovens e Adultos, um jornal 
de bairro a ser distribuído para a comunidade etc.). Pode durar todo 
um semestre e ter ou não conexão com o projeto didático proposto 
para o segundo semestre. No primeiro, por exemplo, os alunos ouvem 
a leitura de poesias e decidem quais farão parte de um livro escrito 
pelo professor (que atua como escriba) e ilustrado por eles. 
A destinação da obra deve ficar clara. Pode ser o acervo de livros 
da professora, a biblioteca da escola, a família das crianças ou colegas 
de outra turma. No segundo semestre, uma proposta poderia ser a 
leitura pelos alunos de poesias que sabem de memória para depois 
serem declamadas em público em um sarau organizado por eles, reunindo 
os pais, os estudantes e a comunidade.
Avaliar sempre  
PEÇA QUE ESCREVAM  Redigir textos, como listas ou cantigas memorizadas, é uma das quatro situações didáticas que devem estar sempre na agenda. Foto: Marcos Rosa
Com base nas atividades essenciais e a 
frequência com que devem ser realizadas, 
o professor pode fazer uma 
programação detalhada do que vai 
trabalhar durante o ano . 
Após essa distribuição, é possível fazer 
agendas de 15 ou até 30 dias de aulas, 
dia após dia, de segunda a sexta-feira. 
Essa é uma etapa de grande importância 
no planejamento. Nela, os projetos didáticos 
e as sequências de atividades também 
são elaborados em detalhes, 
definindo-se justificativas, tempos de 
duração, materiais necessários, 
aprendizagens desejáveis e 
desenvolvimento passo a passo.

Colocar tudo no papel faz pensar na forma de realização das atividades, 
além de antecipar a necessidade de separação ou de compra de 
materiais: que livros devo ter à mão para ler aos alunos? 
Quais voltarei a ler ao longo do ano? 
Quais devo ter em maior quantidade para permitir que todos 
acompanhem a leitura? 
Como escreveremos a lista de nomes dos alunos? 
Como eles vão se apresentar à turma?
Outro cuidado importante é, logo nas primeiras atividades, identificar 
que habilidades, conhecimentos e dificuldades cada aluno traz 
de suas experiências de vida, seja em casa, seja na escola. 
"Esse é o momento de observar, tomar nota e refletir sobre a atuação 
de cada um em tarefas coletivas, em atividades realizadas em duplas 
ou trios e em momentos de trabalhos individuais, o que permitirá 
acompanhar a evolução dela no ano", orienta a pedagoga Debora Samori.
A classe pode ter crianças em diferentes níveis de conhecimento em 
relação à escrita. O professor não deve encarar isso como um problema. 
Cada aluno é importante e traz características que devem ser identificadas 
e aproveitadas. A orientação é ajustar o foco, pensar nas possibilidades 
de interação e troca e seguir em frente com o trabalho.
Há uma infinidade de descobertas a serem feitas por seus futuros 
leitores e escritores, e eles vão precisar de muitos desafios para dizer 
o que pensam e compreender o que leem.
Fonte Clélia Cortez, formadora do Instituto Avisa Lá, em São Paulo
Revista Nova Escola


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