Os conhecimentos e as capacidades envolvidos na aquisição da língua escrita na fase inicial de alfabetização estão organizados em torno dos seguintes eixos:
I. Compreensão e valorização da cultura escrita.
II. Apropriação do sistema de escrita.
III. Leitura .
IV. Produção de textos.
V. Desenvolvimento da oralidade.
I. COMPREENSÃO E VALORIZAÇÃO DA CULTURA ESCRITA
Uma parte significativa das crianças brasileiras que vivem sob condições econômicas desfavoráveis, sobretudo, as que estão nas escolas públicas, tem pouco acesso a práticas sociais de leitura e escrita,
desconhecendo muitas de suas manifestações e utilidades Nesta direção, faz-se necessário que a escola, pela mediação do/a professor/a, proporcione a eles/as condições para:
• Conhecer, utilizar e valorizar os modos de manifestação e circulação da escrita na sociedade.
• Conhecer os usos e funções da escrita..
• Desenvolver as capacidades necessárias para o uso da escrita.
• Saber usar os objetos de escrita presentes na cultura escolar.
Exemplos de Atividades Pedagógicas
- Visitas a diferentes espaços de circulação do texto escrito, como bancas de jornal, bibliotecas, livrarias.
- Audição de textos de gêneros variados como histórias, notícias, cartas, propagandas em diferentes suportes, como livros revistas, jornais, papel de carta.
- Entrevistas com jornaleiros, bibliotecários, escritores.
- Atividades de manuseio e exploração de suportes e materiais de escrita que possibilitem o/a alfabetizando/a aprender a lidar com o livro didático, com o livro de histórias, com as revistas, com jornais e suplementos infantis.
- Atividades que envolvam a aprendizagem do uso do caderno, do lápis, da borracha, da régua, etc.
II. APROPRIAÇÃO DO SISTEMA DE ESCRITA
Neste eixo organizam-se os conhecimentos e saberes, capacidades e atitudes que os/as alfabetizandos/as precisam adquirir para compreender as regras que orientam a leitura e a escrita no sistema alfabético, bem como o domínio da ortografia da Língua Portuguesa. Para tanto, faz-se necessário que eles/elas:
• Compreendam a diferença entre a escrita alfabética e outras formas gráficas: letra e desenhos, letras e rabiscos, letras e números, letras e símbolos gráficos como setas,
asteriscos, sinais matemáticos.
• Dominem convenções gráficas, compreendendo a orientação e o alinhamento da escrita (se orienta de cima para baixo e da direita para esquerda), a função dos espaços em branco e dos sinais de pontuação.
• Reconheçam unidades fonológicas como rimas, sílabas, terminações de palavras.
• Identifiquem as letras do alfabeto, compreendendo a categorização gráfica e funcional das letras e utilizando diferentes tipos de letras (forma e cursiva, maiúscula e minúscula) tanto na leitura quanto na escrita.
• Compreendam a natureza alfabética do sistema de escrita (cujo princípio básico é o de que cada som é representado por uma letra, ou melhor, cada fonema por um grafema).
• Dominem as relações fonema/grafema, compreendendo as regularidades e irregularidades ortográficas.
É importante frisar que a apropriação do sistema da escrita é um processo gradual e cada alfabetizando/a terá seu próprio ritmo. Muitas capacidades deste eixo podem não estar consolidadas logo no primeiro ano de escolaridade e vão demandar mais tempo.
Exemplos de Atividades Pedagógicas :
- Exploração de sílabas, rimas, terminações semelhantes de palavras em jogos, desafios e parlendas.
- Identificação de fonema / grafema em um conjunto de palavras.
- Decomposição e composição de palavras em sílabas.
- Identificação e comparação da quantidade, da variação e da posição das letras de determinadas palavras: bingo, textos com lacunas, colocação de palavras em ordem alfabética, confronto entre a escrita produzida pelo/a alfabetizando/a e a escrita padrão.
- Exercícios que explorem as diferenças entre a escrita alfabética e outras formas gráficas, como, por exemplo, comparação entre desenhos, números, sinais matemáticos.
- Atividades que levem o/a alfabetizando/a a perceber que, em Língua Portuguesa, se escreve da esquerda para a direita, de cima para baixo.
- Atividades de exploração da segmentação dos espaços em branco e da pontuação de final de frases.
- Leitura em voz, apontando cada palavra lida, os espaços entre as palavras e os sinais de pontuação das frases.
- Exercícios de identificação de letras e de reconhecimento da ordem alfabética como bingo,forca, consulta à lista telefônica e ao dicionário.
- Atividades como observação, discussão de regras, jogos ortográficos, palavras cruzadas, charadas, caça-palavras, correção orientada de textos.
- Expor na sala de aula todas as letras do alfabeto, para que os/as alfabetizandos/as, sempre que for necessário, tenham um modelo para consultar.
III. LEITURA
A leitura é considerada uma atividade ao mesmo tempo individual e social.
• Individual porque depende do processamento que cada sujeito realiza para compreender, isto é, depende da realização de operações mentais como percepção, análise, síntese, generalizações, inferências, entre outras.
• Social porque, quando alguém lê, o faz em contextos específicos de interação e isso envolve diferentes comportamentos, atitudes e objetivos na situação comunicativa. Conhecimentos e saberes, capacidades e atitudes envolvidas no processo de leitura:
• Desenvolvimento das capacidades relativas ao código escrito especificamente necessárias à leitura.
• Desenvolvimento das capacidades de decifração.
- Saber decodificar palavras e textos escritos.
- Saber ler reconhecendo globalmente as palavras.
Exemplos de Atividades Pedagógicas
- Estimular a leitura de livros diversificados.
- Ler e discutir os conteúdos dos textos.
- Valorizar a leitura como fonte de entretenimento.
- Cuidar dos livros e demais materiais escritos.
- Procurar informações em jornais e revistas.
- Levantar hipóteses sobre o conteúdo dos textos observando, por exemplo, imagens e outras pistas gráficas.
- Recontar textos.
- Observar a finalidade dos textos, a partir da análise do suporte em que foram veiculados, do gênero e da sua autoria.
gêneros textuais, como por exemplo:
- Histórias, poemas, trovas, canções, parlendas, listas, agendas, propagandas, notícias, cartazes, receitas culinárias, instruções de jogos..., e leia para eles/elas em voz alta ou peça-lhes a leitura autônoma.
• Abordar as características gerais desses gêneros, perguntando:
- Do que eles costumam tratar? Como costumam se organizar? Que recursos linguísticos costumam usar? Para que servem?
• Propor aos alfabetizandos perguntas como:
- O texto que vamos ler vem num jornal? Num livro? Num folheto? Numa caixa de brinquedo? Que espécie (gênero) de texto será esse? Para que ele serve? Quem é que conhece outros textos parecidos com esse? Onde?
• Buscar informações sobre o autor do texto, a época em que ele foi publicado, com que objetivos foi escrito. Esses dados permitem situar o texto no contexto em que foi produzido e ampliam as possibilidades de compreensão e de fruição do que vai ser lido.
• Estimular a elaboração de hipóteses:
- Este texto trata de que assunto? É uma história? É uma notícia? É triste? É engraçado?
• Promover a adivinhação do que o texto diz, pela suposição de que alguma coisa está escrita; pelo conhecimento do seu suporte: livro de história, jornal, revista, folheto, quadro de avisos, etc; pelo conhecimento de suas funções: informar, divertir, etc; pelo título, pelas ilustrações.
• Interromper no meio a leitura de uma história (ou de outro gênero de texto) e perguntar aos alfabetizandos o que eles/elas acham que vai acontecer, como o texto vai prosseguir, e por que pensam assim.
• Incentivar os/as alfabetizandos/as a lerem o texto nas entrelinhas, a produzirem inferências, a formularem e a testarem de hipóteses, a conectarem informações, a prestarem atenção e explicarem os não-ditos, a descobrirem e explicarem os porquês e as relações entre o texto e seu título, a fazerem extrapolações (isto é, projetando o sentido do texto para outras vivências, outras realidades).
OBS: GÊNEROS TEXTUAIS: são as diferentes “espécies” de texto, escritos ou falados, que circulam e que são reconhecidos socialmente. Exemplo: bilhete, poema, letra de música, entre outros.
SUPORTE: referem-se à base material que permite a circulação desses gêneros,com características físicas diferenciadas. Exemplo: jornal, livro, dicionário, placa, catálogo, agenda, entre outros.
IV. PRODUÇÃO DE TEXTOS
Assim como a leitura, a produção de um texto também é concebida como uma atividade social, visto que se relaciona a objetivos específicos e a leitores/as determinados/as. Isto implica que o “como” e “o que escrever” estão entrelaçados com o “para que” e o “por que escrever”.
Ao entrar na escola, o/a alfabetizando aprende não só a escrever, mas, também, a compreender e a valorizar o uso da escrita para diferentes funções. Entretanto, as suas primeiras experiências de escrita não precisam se limitar a exercícios grafo-motores ou a atividades treinamento de habilidades sistema de escrita controladas de reproduzir escritos e preencher lacunas.
Por exemplo: Saber pegar no lápis e traçar letras, compondo sílabas e palavras, bem como dispor, ordenar e organizar o próprio texto de acordo com as convenções gráficas apropriadas são capacidades que devem ser desenvolvidas logo no início do processo de alfabetização.
No início deste processo, os/as alfabetizandos/as podem:
• Participar da produção coletiva de textos, em que o/a professor/a faz o papel de escriba e registra o texto que eles vão produzindo.
À medida que o processo avança, eles vão ganhando autonomia e aprendendo a escrever sozinhos.
Nesse sentido, é importante que, desde o início, o/a professor/a oriente o planejamento do texto em função de sua temática, de seu interlocutor, do suporte onde vai circular (escrever, por exemplo, um bilhete para os pais pedindo materiais para fazer uma receita de bolo na sala). Assim, os
alfabetizandos devem aprender a:
- Selecionar o vocabulário, as estruturas sintáticas em função da situação de comunicação; e devem aprender, também, a revisar e re-elaborar seus textos para atenderem aos objetivos, ao destinatário e ao contexto de circulação previsto.
- Compreensão e valorização do uso da escrita com diferentes funções, em diferentes gêneros.
- Produção de textos escritos de gêneros diversos, adequados aos objetivos, ao destinatário e ao contexto de circulação:
- Escrever segundo o princípio alfabético e as regras ortográficas.
- Planejar a escrita do texto considerando o tema central e seus desdobramentos.
- Organizar os próprios textos segundo os padrões de composição usuais na sociedade.
- Usar a variedade linguística apropriada à situação de produção e de circulação, fazendo escolhas adequadas quanto ao vocabulário e à gramática.
- Usar recursos expressivos (estilísticos e literários) adequados ao gênero e aos objetivos do texto.
- Revisar e reelaborar a própria escrita, segundo critérios adequados aos objetivos, ao
destinatário e ao contexto de circulação previsto.
Exemplos de Atividades Pedagógicas
- Ler em voz alta para os/as alfabetizando/as histórias, notícias, propaganda, avisos, cartas circulares para os pais, etc.
- Trazer para a sala de aula textos escritos de diferentes gêneros, em diversos suportes ou portadores e explorar esse material com os/as alfabetizando/as (para que servem a que leitores se destinam, onde se apresentam, como se organizam, de que tratam e que tipo de linguagem utilizam).
- Fazer uso da escrita na sala de aula, com diferentes finalidades, envolvendo os/as alfabetizandos/as (registro da rotina do dia no quadro de giz, anotação de decisões coletivas, pauta de organização de trabalhos, jogos e festas coletivos, etc.).
- Escrever, por exemplo, um bilhete para os pais pedindo materiais para fazer uma receita de bolo na sala.
V. DESENVOLVIMENTO DA ORALIDADE
Só muito recentemente a linguagem oral passou a ser considerada como objeto de atenção do ensino.
Por exemplo: Quando o/a alfabetizando/a entra na escola: ele/ela já sabe fazer uso de uma fala cotidiana, utilizando a linguagem oral em suas interações para afirmar suas vontades, expressar seus sentimentos, manifestar suas preferências entre outras coisas.
À escola cabe o papel de aproximá-los dos usos da linguagem que são socialmente privilegiados, das práticas de linguagem que são valorizadas, da variante linguística considerada padrão. Mas, ao mesmo tempo em que faz isso, a escola irá mostrar aos alfabetizandos que seu modo de falar, o que aprendeu com sua família, na sua comunidade, é também legítimo e que não se deve discriminar as pessoas pelo seu modo de falar.
Ao participar das interações propostas em sala de aula, eles/elas vão aprendendo a ouvir e a falar em situações diferenciadas. Aprendendo, por exemplo, a ouvir o/a professor/a e a compreender o que ele/ela fala, a ouvir os/as colegas e esperar sua vez de falar, a ter atenção enquanto o outro fala, a respeitar a diversidade nos modos de falar. Simultaneamente, vão aprendendo também a dar recados, a contar casos sem perder o fio da meada, a expor oralmente ideias.
Conhecimentos e saberes, capacidades e atitudes envolvidas no desenvolvimento da oralidade:
• Participação nas interações cotidianas em sala de aula:
- Escuta com atenção e compreensão.
- Respostas às questões propostas pelo/a professor/a.
- Expondo opiniões nos debates com os/as colegas e com o/a professor/a.
• Respeito à diversidade das formas de expressão oral manifestas por colegas, professores/as e funcionários/as da escola, bem como por pessoas da comunidade extra-escolar.
• Usar a língua falada em diferentes situações escolares, buscando empregar a variedade linguística adequada.
• Planejamento da fala em situações formais.
• Realização das tarefas cujo desenvolvimento dependa de escuta atenta e compreensão.
Notas
1- O presente texto tem o objetivo de subsidiar os/as professores/as alfabetizadores/as na compreensão dos processos que estão envolvidos na aquisição do sistema de escrita alfabética, da leitura, da produção de texto e do desenvolvimento da oralidade.
2- Informações extraídas do Programa de Formação Continuada de Professores das Séries Iniciais do Ensino Fundamental (Pró-Letramento). Alfabetização e Linguagem, fascículo 1. Secretária de educação Básica (SEB). 2005, elaborado e sistematizado por Angela Freire, Pedagógica lotada na Coordenação de Ensino e Apoio Pedagógico (CENAP) / Núcleo de Tecnologia Educacional (NET-17), na Fábrica do Saber.
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